O que é a vida?

Olhar para a frente, e ver o meu amigo de 19 anos, deitado no chão, sem respiração, sem pulso, sem resposta aos nossos chamamentos, ficará para sempre agora como uma recordação do inesperado. 1 minuto entes refilava com os colegas, enquanto jogava à bola, marcara um belo de um golo e já havia reclamado do cansaço. Mas ninguém podia imaginar que aquele rapaz, de um momento para o outro cairia no meio do campo, tal e qual Féher naquela noite fatídica. Aqueles 10 minutos, à espera do INEM, pareceram mais do que uma hora, e ver os meus amigos a tentar salvá-lo com massagens cardíacas, intervaladas com respiração boca-a-boca, enquanto eu tentava encontrar a pulsação inexistente no seu pulso já frio são coisas que tão cedo não sairão da minha cabeça. Ver a sua namorada que também tinha ido ver o jogo, a chorar desalmadamente enquanto lhe apertava a mão, ver alguns jogadores, mesmo aqueles que não o conheciam com as lágrimas a escorrer pela cara. Ver o meu namorado também ele a tentar fazer o impossível massajando o peito daquele corpo que não se movia por nada. Tudo isto são imagens que tocam. Por ser meu amigo, por ser tão novo e por ter sido tão inesperado não deu para não ser apanhado de surpresa.
10 minutos depois chegam os paramédicos e sem sabermos como, aquilo que parecia impossível aconteceu: a desfibrilhação resultou naquele coração imóvel e não tardou que os seus valores se aproximassem dos normais. Depois disto, ainda restavam as dúvidas de que o milagre tivesse de facto acontecido: ele continuava inconsciente e o facto de ter estado 10 minutos sem qualquer sangue a chegar ao cérebro fazia prever que danos pudessem aparecer. Mas felizmente 2h depois soubemos que acordara e até estava muito pouco confuso. Está agora internado para que exames sejam feitos para esclarecer o que se passara no momento da   queda.

Isto tudo faz-me pensar como a vida pode ser traiçoeira. Como se pode perder tudo a qualquer momento. Este meu amigo foi salvo pelos seus amigos que durante 10 minutos não desistiram de lhe dar a massagem cardiaca apesar de parecer que nada valia a pena. E também isto me faz pensar quantas vidas podem ser salvas se as pessoas que estão por perto de uma situação destas souberem o que fazer. Ainda assim, segundo os médicos, foi um milagre o que aconteceu ontem. As probabilidades de alguém que "morreu" acordar e ainda para mais sem qualquer dano cerebral depois de 10 minutos naquele estado, é de 1% ou menos. Este rapaz, ganhou o euromilhões ontem e ainda nem sabe (sim ele ainda não sabe que "morreu" e "ressuscitou"). Este homem foi abençoado: durante todo o tempo que houve este torneio de futebol, nunca a sua namorada tinha ido ver um jogo, nunca a namorada de um outro jogador e nosso amigo, que é médica e que soube como coordenar as coisas até que o INEM chegasse, tinha ido ver um jogo.

Há coincidências do caraças. Durante toda esta cena não me saía da cabeça o refrão do "How to save a life" dos The Fray. Mas agora que o susto passou e ele está bem, e até já diz palavrões (ele é do norte), podemos rir com o toque de telemóvel do paramédico que não era nada mais, nada menos que "Help!" dos Beatles.

Um dia vou ser assim!